Alguém recomendou à uma amiga atriz, de férias em Buenos Aires, que assistisse a alguma peça do diretor Rafael Spregelburd. Sabendo da presença dela, o diretor quis saudá-la ao final do espetáculo. Porém, queria ser breve. Na chuva, numa calçada estreita, faminto, esgotado ou talvez elétrico, depois ter ficado duas horas no palco, ele começou a falar do teatro independente de Buenos Aires…
Depois da grande crise de 2001, alguns diretores de teatro instalaram suas companhias em garagens, a mesma sala recebendo aulas e apresentações. Cada noite, entre quinta-feira e domingo, há uma peça diferente. Elas ficam em cartaz enquanto houver interesse do público. O cenário é minimalista. Os vizinhos emprestam cadeiras. São o texto e a atuação que realmente importam. Aos poucos, algumas companhias prosperam e compram outras garagens, outras casas…
Uma hora mais tarde, ainda na calçada estreita e sob a chuva, pedi para fotografá-lo e ele propôs que o encontrasse num domingo à tarde, antes da apresentação do seu novo espetáculo, o monólogo “Apátrida”. No teatro vazio, arrumando seu figurino, ele compartilha o palco com o músico Zypce, que fabrica seus próprios instrumentos.